Relato de parto da Sarah - por Katia Barga

RELATO DE PARTO – A CHEGADA DE SARAH
A decisão
Eu nunca me imaginei mãe. Na verdade nunca tive jeito com crianças e não me sentia a vontade com elas, não sabia ficar fazendo gracinhas, nem entretê-las, mas mesmo assim em geral parece que as crianças iam com a minha cara.
Acho que isso tinha muito a ver com a forma como fui criada, não fui feliz na casa dos meus pais e não imaginava que as coisas podiam ser diferentes. Sobre o casamento tinha a mesma opinião, de tanto ver o desrespeito que reinava na casa deles, até que eu conheci o meu marido e vi que realmente podia ser muito diferente.
Ele sempre foi louco por crianças, e seu maior sonho era ser pai, não tinha uma data em que pudesse fazer um pedido que não repetisse o desejo de ser pai.
Em outubro de 2006 parei de tomar pílula, o que eu já fazia por muitos anos e começamos as tentativas, mas os meses foram passando e nada, meu ciclo cada vez mais irregular. Depois de alguns exames me disseram que eu tinha ovario policístico e que seria muito difícil de engravidar.
Em maio de 2007 no dia das mães, a minha cunhada ganhou um livro de receitas ilustrado em que cada receita correspondia a um santo católico. Achei o livro bem bonito, adoro livros de receita. Folheando me deparei com uma santa que eu nunca tinha ouvido falar, Santa Sara Kali, cigana, parteira, que acompanhava Maria. Ela era conhecida por ajudar mulheres a engravidar. Pensei comigo mesma: isso não é coincidência! Vou fazer uma promessa pra Santa Sara. Lendo um pouco mais de sua história, vi que normalmente era oferecido o lenço mais bonito que se encontrasse, e que esse lenço deveria ficar no berço para proteger o bebê. Muitas mulheres depositam esse presente numa gruta no sul da França, mas não prometi levar porque achei que ia ficar complicado. Mas prometi que se fosse uma menina chamaria Sarah.
Engravidando
Na época trabalhava numa grande empresa já há 10 anos, mas não queria mais continuar, embora estivesse em ascenção, os principios e objetivos não combinavam nem um pouco comigo, queria mudar de carreira, mas não me via como uma super mulher conciliando casamento, estudos, trabalho e um bebê. Sabia dos meus limites. O nível de estress estava chegando a um patamar insuportável. Depois de muito conversar com o meu marido, chegamos a conclusão que estava na hora de parar e me dedicar somente a estudar e ter o nosso bebê. Tínhamos certeza que o estress não estava deixando que o nosso anjo chegasse. Felizmente tudo aconteceu no momento certo, eu estava cuidando de um projeto grande e não podiam passar para outra pessoa, além disso, minha chefe ia sair de férias e eu assumiria seu lugar nesse período. Bom, eu tinha a faca e o queijo na mão. Consegui fazer um acordo e me mandariam embora com a condição que eu ficasse mais 40 dias tocado o projeto e substituindo a minha coordenadora. Feito! Trabalhei como nunca, afinal, 10 anos dependiam disso.
No final de abril de 2007 fui desligada com direito a homenagem, almoço de despedida e lágrimas. Eu nem esperava tanto...
Um mês depois eu estava grávida. Mas não sabia.
Tinha prometido que faria novamente um teste de gravidez no dia de Santa Sara, que era 24 e 25 de maio. Depois de rodar 3 famácias atrás do teste, eu não queria aqueles com papel e potinho, consegui comprar no shopping e fui pra casa fazer. Negativo. A minha última menstruação tinha sido em 05/04...
Fiquei chateada, tinha certeza que dessa vez ia. Será que eu tinha algum problema? Será que não poderia engravidar? Será que era castigo porque eu demorei tanto para permitir acontecer?
E a minha promessa? Furou? Ah, talvez tivéssemos que tentar naquele dia...
Mais assunto pra terapia.
Os meses seguintes foram uma grande correria, procuramos um apartamento maior, pintamos, fizemos textura na parede, decoramos, instalamos gabinetes, empacotei, desempacotei mudança.
Depois de fazer tudo isso, notei que não andava bem, com muito sono, indisposta, os seios doloridos e o cheiro dos móveis novos me incomodando muito.
Como a médica que eu estava consultando em SP era um horror, achei melhor marcar com o meu antigo GO de Praia Grande que eu gostava muito e já me acompanhava há uns 10 anos.
No dia 01/08/07 fui para a consulta e conversando com ele explicando o que sentia, ele foi categórico: você está grávida, vou te dar uma cartinha de acompanhamento pra vc fazer um ultra de emergência aqui perto e você volta com o laudo ainda hoje pra gente ver. A recepcionista já conhecida de tantos anos, conseguiu um horário pra mim logo depois do almoço e lá fui eu, totalmente incrédula, imaginando mil problemas (drama,drama,drama).
Ao entregar a cartinha para o médico do US ler, ele simplesmente olhou pra mim com uma cara de pouco caso e disse: ah, você não menstruou ainda por causa do ovário policístico, vamos dar uma olhada.
Na mesa do ultrassom, deitada olhando pro teto, o exame começou. Instantes depois o médico declara com um tom alegre, completamente diferente: você não mestruou ainda porque está grávida! Olha aqui, escuta o coraçãozinho.
Eu quase caí da maca! Acho que nunca senti uma emoção tão grande. Não sabia se ria, se chorava, senti um soluço involuntário. Olhando pro monitor, vi claramente aquele feijãozinho tão fofo, pulando como um peixinho no aquário. E ele continua: tem umas 9 semanas. E eu escuto o coração: rápido e forte como um beija flor!
Fiquei esperando por quase uma hora o laudo. Totalmente fora de mim. Queria fazer mil ligações, imaginava mil maneiras diferentes de contar pro marido. Laudo pronto, voltei no meu médico que ficou super feliz e me deu algumas orientações breves. Conversamos sobre o pré natal, que embora eu quisesse muito fazer com ele, como estava morando em São Paulo ficava muito complicado.
Mal sabia eu como era difícil encontrar um médico que não fosse cesarista.
Subi a serra super ansiosa, queria coversar logo com o meu marido. Falei por telefone que precisávamos conversar, pra ele não chegar tão tarde. Mesmo assim, ainda esperei até mais de oito da noite pra poder contar. Ele todo preocupado, achando que não poderíamos ter filhos. Dei o ultra pra ele olhar, quando viu o resultado, ficou super emocionado.
Lembro dele ter ido tomar banho em seguida e escutá-lo chorando no banheiro. E olha que é muito difícil ele chorar.
A GRAVIDEZ
Tive uma gravidez super tranquila, sem nenhum problema ou ocorrência. Com mais ou menos 20 semanas fizemos um ultra que mostrou que uma menininha estava chegando, o desejo de toda a família do meu marido. Pelas minhas contas ela foi mesmo concebida naquele dia 24 de maio... e ela se chamaria Sarah.
A BUSCA PELO MÉDICO E PARTO NORMAL
Logo nos dias seguintes da confirmação da gravidez comecei a fazer algumas pesquisas na internet sobre parto, yoga pra gestantes. Estava meio perdida aqui em SP e tinha que procurar outro médico. Sabia que não seria fácil.
Eu sabia que havia alguma coisa errada com o atendimento às grávidas. Não conhecia sequer uma amiga, parente ou conhecida que tivesse tido um bebê por parto normal. Ninguém. Não era possível, tinha alguma coisa errada. Será que as mulheres todas de repente tinha virado gestantes de risco??? Seria impossível pra uma mulher "moderna" passar pelo processo do parto? Mas por que era impossível só pra mulher de classe média? Aí tinha coisa...
Nas primeiras pesquisas já encontrei a Parto do Princípio, o site do GAMA, informações sobre doula e parto humanizado, coisas que nunca tinha ouvido falar. Devorei todas as informações, comecei a ler os relatos de parto, experiências maravilhosas. E pensava: por que não eu?
Pedi para entrar na lista da Materna, e me senti em casa como há muito não sentia. Que mulherada era aquela? Compartilhando experiências, força e exemplos de vida, achei um grupo de Poderosas que não se intimidavam com o sistema imposto as mulheres.
Comecei a participar das reuniões do GAMA, as noites de quinta eram deliciosas, quantas barrigas, quantas histórias. Como a gente se divertia nas reuniões! As histórias hilárias dos médicos, os absurdos compartilhados como exemplos na maior descontração. A condução da Ana Cris não deixava margem pra dúvidas, nem perguntas sem resposta. Raras vezes na vida conheci alguém tão cativante e tão direta. E a cada semana via a minha barriga maior e o grupo também maior, já não cabendo na sala!
Decidi logo no início que a Ana Cris seria a minha doula. Queria pegar por osmose aquela segurança e experiência.
Nos primeiros emails trocados ela me indicou um médico do meu convênio como sendo uma pessoa muito do bem e um médico muito bom, mas que não podia garantir que ele aceitaria os meus desejos para o parto.
Fiz quase todo o meu pré natal com ele. As consultas eram de maneira geral muito boas, ele foi muito atencioso, esclareceu as minhas dúvidas, levava o tempo que eu precisasse, mas em alguns momentos eu saía de lá com um desconforto, me sentindo insegura...
A esposa dele é neonatologista e psiquiatra, e como eu não queria que a Sarah passasse por uma porção de procedimentos crueis e desnecessários e ficasse separada de mim, optei por levar um pediatra particular no momento do nascimento.
Essa foi a primeira batalha com o meu marido. Ele partia do princípio básico de que se tinha convênio, por que ficar gastando dinheiro? E ele deveria ter razão, mas as coisas não funcionam assim. Depois de explicar os porquês, ele aceitou, mesmo a contra gosto.
As semanas continuaram passando e a minha insegurança pelas minhas escolhas continuava me assombrando. Não conseguia curtir com tranquilidade as pequenas bobagens da maternidade: roupinhas, decoração, lembrancinhas, que é o que a maioria das mães se preocupa sem querer pensar no nascimento (e por isso acabam na faca) só pensava no parto e o que fazer pra que a minha filha tivesse um nascimento digno, seguro e que meu corpo fosse respeitado, não fosse violado a toa.
Ainda tive que aguentar sogra fazendo apologia a cesarea ("porque eu já passei pelos dois e sei como é") e as historinhas mais absurdas de justificativas de cesárea de colegas e parentes. Mesmo sabendo que os motivos dados pelos médicos eram falsos e mentirosos, raramente perdia o meu tempo argumentando, porque a verdade é que essas pessoas não se importavam. Além disso, eu ainda corria o risco de ter que passar por uma cesárea necessária e depois ainda ouvir bobagens.
Cheguei a ter uma consulta com umas 20 e poucas semanas com a MK, porque nutria um desejo de ter o bebê em casa. A consulta foi maravilhosa, mas ela foi categórica, é importante o apoio do marido pra poder ter um parto tranquilo em casa, caso contrário ficava complicado.
Na reta final da gestação, com umas 33 semanas, marquei uma consulta com o médico e a sua esposa, para conversarmos sobre o parto. A AC iria comigo pra se apresentar, desde o início ele apoiou a minha escolha de ter uma doula me acompanhando. Fui a consulta e tudo ia bem, a neonato esposa dele foi muito gentil, perguntou quais procedimentos eu gostaria que não fossem feitos, colírio, vitamina K, aspiração, etc. Tudo estava bem até que a AC perguntou sobre bolsa rota. Ele foi categórico: esperava 6 horas e se não iniciasse o TP partia pra indução. O que a gente sabe como acaba na maior parte das vezes.
Minhas parcas esperanças ruiram de vez. Saí de lá desconsolada. Toda a minha insegurança tinha fundamento. Sabia que essa história de bolsa rota é cheia de controvérsias, cada país adota um "limite", mas nunca tinha ouvido tão pouco...
Saindo do consultório sentamos eu e a AC para conversar. Eu era só preocupação. Ela me disse que eu podia arriscar, mas que se a bolsa rompesse antes do TP, seria complicado. Se não me falhe a memória, tinha uns 10% de chances de isso ocorrer. E que se eu optasse por esperar mesmo assim, não poderia contar para o médico, nem pra ela, teria que segurar a onda sozinha. Eu aguentaria?
Naquela noite fui a uma reunião do GAMA, sozinha como sempre. E tomei uma decisão: iria trocar de médico e tomar as rédeas da situação. Não ia ficar contando com probabilidades. Sabia que a insegurança era o primeiro fator pras coisas darem errado. Ia marcar uma consulta com a Dra Andrea no dia seguinte, já tinha lido vários relatos de parto com ela e gostado muito da sua postura. Fui a consulta e tudo correu super bem, ela me esclareceu algumas dúvidas, conversamos sobre valores e eu decidi que usaria o dinheiro de uma previdencia antiga pra pagar se precisasse.
O que eu não esperava era a reação do meu marido com isso. Ele não aceitou de forma alguma. Eu no final da gravidez, sozinha, sem família, amigos distantes. Creio que tinha medo de ser mandado embora da empresa (a situação não estava boa, mas lá nunca estava mesmo) e ficar com uma despesa grande pra pagar. Foi praticamente uma semana sem falar comigo. Foi um dos momentos mais difíceis que já passei. Não faltaram lágrimas, mas também não faltaram palavras de conforto das amigas da materna e da parto nosso. Não sei se teria suportado sem esse apoio. Reli há pouco alguns dos emails da época e senti um baita aperto no peito. Mas no fim tudo ficou bem. Continuei participando das reuniões, praticando a minha yoga em casa, meditando e me preparando para o que estava por vir.
Aproveitei o final da gravidez pra passear um pouco, ir ao cinema, essas coisas. Lembro de uma tarde particularmente gostosa quando passeei no shopping com a Andreia Gebrael da Maura. Ela com a barriga imensa e com contrações de braxton muito incomodas. A gente chamou bastante a atenção, duas barrigas enormes andando juntas...rs...
Uns dez dias depois, no carnaval, a Andreia deu a luz em casa a Maura (mais conhecida como Maroca) foi muito emocionante pra mim ter acompanhado esse final de gravidez, me senti ainda mais perto do que ia me acontecer.
No domingo a noite (02/03) estava deitada com o meu marido descansando e conversávamos sobre o parto da Andreia. Eu comentava que ela ficou tanto tempo em pródromos, quando achava que o TP ia engatar, parava de novo, que se não tivesse estourado a bolsa ela nem saberia que a hora tinha chegado. A minha dpp estava chegando, era dia 04/03 então tinha tudo a ver essa conversa. Levantei da cama e quando fiquei de pé senti um liquido quente descendo pelas pernas. Quando olhei pro chão uma pequena poça rosada.
Meu coração parou por um instante: chegou a hora! Era mais ou menos nove da noite. Liguei pra Ana Cris pra que ela ficasse de sobreaviso caso as coisas engrenassem durante a noite. Ela me deu o conselho mais sábio e mais inútil nessa hora: descansa, dorme que ainda deve demorar horas pra começar de verdade. Perguntei o que eu fazia, continuava saindo um pouquinho de liquido, nessas horas a gente fica meio boba, nem pensa no óbvio. A AC me disse pra colocar uma toalha entre as pernas pra poder dormir.
Dormir? De que jeito? Eu só ficava pensando no que ia acontecer. Ela vai nascer mesmo... tudo vai mudar... será que vou conseguir?... chegou a hora, não dá mais pra fugir! Não consegui dormir nada. No máximo um cochilo rápido. Sempre tive dificuldade pra dormir e com uma expectativa dessas seria impossível!
Acordei (melhor, levantei) cedo, tomei café e fiquei observando o meu corpo. Meu marido me pergunta se quer que fique ou se pode ir trabalhar. Eu digo que estou bem e ele pode ir, qualquer coisa eu ligava.
Ainda tenho o bloco onde comecei a anotar as contrações. Olhando pra ele dá uma sensação estranha... um misto de saudade e deja vu... A primeira contração que anotei foi 8:20 da manhã. Elas estavam irregulares e fracas, de cinco em cinco, quatro em quatro, três, dois. E espaçavam um pouco de novo. Mandei email pra lista, assim a corrente do bem já começava a vibrar a eu favor. Falei com a Dra Andrea e cogitamos fazer um ultra pra ver se realmente a bolsa tinha rompido ou tinha sido ruptura alta ou externa. Não consegui horário com o medico do ultra que ela me indicou e continuei mais um pouco em casa. Tomei uma banho demorado, cantei pra minha pequena e durante as contrações me concentrava na respiração e as vezes soltava o ar fazendo som de om. Perto da hora do almoço achei que estava começando a engrenar, liguei pro meu marido, ele voltou do trabalho pra ficar comigo. Falei novamente com a Dra Andrea que disse que eu poderia ir pro são Luiz pra fazer o ultrassom e dependendo de como estivesse já ficar por lá. A Ana Cris também estava avisada do andamento.
Pegamos as nossas coisas e fomos pra lá. Levei o bloquinho onde estava marcando as contrações e continuamos anotando quando chegamos lá. A essa altura elas estavam entre dois e três minutos há mais de uma hora. Mas perfeitamente suportáveis.
Cheguei no SL em torno de 12:00 e aí começaram as canseiras. Fizemos a ficha na admissão e fui fazer um toque, medir a pressão e cardiotoco. Enquanto esperava só via as "mãezinhas" chegando pra suas desnecesáreas e me dava uma raiva absurda porque eu já estava ali e era ignorada.
A minha pressão estava super alta, coisa que nunca tinha acontecido, acho que 15 x 10. Enquanto isso ligavam pra Dra Andrea. Eu não conseguia escutar o que diziam porque estava uma barulheira de reforma. Só peguei fragmentos da conversa: "só está com um centímetro", "devem ser os prodromos". Não me esqueço da cara de descaso da enfermeira. Enquanto ela media a pressão avisei que estava sentindo uma contração, certamente por isso saiu tão alta, mas ela nem me deu atenção, disse que no cardiotoco não aparecia. Como se eu não soubesse o que estava sentindo, a maquininha sabia melhor!
Em seguida veio a segunda passagem deságradável, a enfermeira diz que no cardiotoco os batimentos da minha pipoca estão muito estáveis sem alteração e que ela vai buscar um sinal sonoro pra testar. Nessa hora agradeci tanto os meses de lista e as informações que recebi! Na hora eu rebati: nada disso, você não vai buzinar na minha barriga.
A enfermeira me fuzilou com o olhar. Óbvio que elas não estão acostumadas a serem questionadas. Depois de uma pausa (o meu marido com uma cara de espanto) ela fala: "você já almoçou?", respondo que não, estava morrendo de fome. Então ela pede que a gente vá almoçar, como algum doce depois e volte pra repetir o exame.
Por telefone a Dra Andrea autorizou fazer um ultrassom pra ver como estava o líquido da bolsa, se realmente havia acontecido a ruptura. Fomos almoçar e depois ficamos esperando ser chamados pro ultrassom. Esperamos mais ou menos uma hora, e eu lá com as minhas contrações que a essa altura eu não queria mais nem anotar. Fiz o ultra, tudo bem com a Sarinha (claro!), o líquido no nível normal, e pelo exame ela tinha uns 3 kilos. No final o médico do ultra diz que está tudo ótimo com ela.
Eu ainda tinha que esperar o laudo do ultrassom e voltar pra refazer o cardiotoco. Deus, como eu queria ir embora! Mais uma hora pro resultado, e mais outra canseira pra passar de novo pelos exames. Eu bufava de monte. Ai, como eu me arrependia de ter aceitado ir pro hospital!
Refizemos o cardiotoco, estava tudo bem e fui liberada. Já eram quase seis horas. Passamos quase seis horas de um lado pro outro lá! Na verdade eu nem sei como estava quando saí de lá, porque não me examinaram de novo.
Voltamos pra casa e fiquei de um lado pro outro arrumando coisas. As contrações continuavam sem muito ritmo, a cada 3, 2, 4, 5 minutos, mas cada vez mais intensas. Lá pelas nove horas da noite já não dava mais pra falar, nem fazer om durante as contrações...rs...
Meu marido ligou pra Ana Cris que quando ouviu o barulho que eu fiz durante uma contração, disse que era melhor já ir pro hospital e ela encontrava conosco lá. Eu não queria ir, depois da canseiras a tarde toda, eu não queria ver a cara do hospital de jeito nenhum. Só concordei em ir se ela prometesse que ia entrar com a gente, eu não ia passar da porta do hospital antes dela chegar. A AC ligou pra Dra Andrea pra avisar que estávamos indo pro hospital.
Pegamos as últimas coisas e lá fomos nós. Era tarde, quase onze da noite, então não tinha transito. Fui no banco de trás xingando todos os buracos da rua e reclamando com o meu marido quando ele ia rápido demais ou devagar demais.
Quando chegamos no hospital a AC já nos esperava na porta. Senti um alivio imediato. Em algum momento tinha perdido o controle e não conseguia mais respirar direito nem me concentrar. A cada contração eu me inclinava pra frente, a AC massageava as minhas costas e o melhor de tudo, me lembrava de respirar e relaxar os ombros. Fomos para a triagem. Que diferença! O hospital tranquilo, a AC conhecia a enfermeira responsável naquele turno e agilizou bastante o processo. No caminho pra sala paramos algumas vezes quando a contração vinha. Quando passava um segurança perguntava se estava tudo bem, se queria que chamasse alguém. Parece que nunca viram mulher em trabalho de parto! Provavelmente não. Deitei pra fazer os exames, pressão, toque e cardiotoco, e a enfermeira começou com aquelas perguntinhas cretinas que não tem pior hora pra responder que durante uma contração. Data da última menstruação e uma porção de coisas que nem me lembro, algumas a AC ia respondendo, outras meu marido. Não lembro ao certo quando ele voltou, Tinha ficado pra trás pra preencher a papelada burocrática na recepção.
Enquanto eu esperava na maca pelo exame a Ana Cris pegou um lenço cor de rosa que estava sobre a minha bolsa e disse: que lenço bonito!
Era o meu lenço da promessa de Santa Sara. Naquele momento eu olhei e pensei: o lenço da Santa parteira nas mãos de outra parteira! Vai dar tudo certo. Durante as contrações em casa eu tinha andado de um lado pra outro com o lenço e quando deitava colocava sobre a minha barriga.
A enfermeira começou a me examinar. A Ana Cris me pergunta: quanto vc acha justo estar a dilatação?
E diante da minha cara de dúvida ela completa: é quanto seria justo e não quanto vc gostaria! Mentalmente eu calculei que pela quantidade de horas que eu estava em TP, já tinha passado onze horas desde o toque que deu 1 cm. Eu deveria estar com uns oito, mas fiquei com receio de falar e me decepcionar com a realidade.
A Ana Cris me diz que se estiver com uns cinco está ótimo. Eu me desanimo um pouco. Será que o justo seria só metade do caminho?
Quando a enfermeira termina o exame dá um sorrisinho e diz: oito pra nove!
Fiquei super feliz! Então por isso estava tão difícil em casa e no caminho pro hospital. Eu estava no período de transição, teoricamente o mais difícil.
Alívio, não devia faltar muito pra acabar.
A enfermeira liga pra Dra Andrea que fala que irá imediatamente, mas como está mais longe, pedirá pra Marcia Koiffman já ir pro hospital para ficar responsável pela minha internação. Como ela mora perto, chegaria rápido.
Daí pra frente muita coisa é nebulosa na minha memória. Mas vou tentar contar tudo o que me lembro.
Fomos para a delivery do SL, a antiga, porque a nova ainda não estava pronta. Felizmente estava livre. A AC foi trocar de roupa. Uma meia hora depois chega a MK. Adorei vê-la ali. Pelo menos em parte meu desejo original de ter o bebê com ela seria atendido. Sua aura de paz me tranquilizou ainda mais.
Já estava na banheira com a AC cuidando de mim. Não encontrava posição confortável, a barriga ficava pra fora da água e eu sentia frio. A AC ficou quase o tempo todo com uma toalha jogando água sobre a minha barriga. O encosto da banheira era horrível, então ela improvisou um encosto com um travesseiro dentro de um saco plástico. As vezes meu marido aparecia e ficava um pouco comigo, principalmente quando a AC saia pra buscar alguma coisa. Ela me manteve hidratada e alimentada a noite toda. Um mimo só!
Eu disse mesmo a noite toda. Embora eu tenha chegado no hospital tão adiantada no TP, a coisa deu uma parada. Muito provavelmente pelos aborrecimentos que eu já tinha passado lá durante o dia e também por no fundo não ser meu desejo estar naquele ambiente.
Depois de horas na banheira sem progresso, achei que estava sentindo vontade de fazer força, mas me enganei, acho que fiz um pouco de força antes da hora. A Ana Cris acabou sugerindo sair da banheira para ver se engrenava de novo. Sentei no banquinho e fiquei ali por quase uma hora e meia. Não tinha noção do tempo. As contrações quase haviam parado e só voltavam quando eu passava a mão na barriga em círculos. Ana Cris ficou sentada na minha frente no chão do banheiro e as vezes também massageava a minha barriga chamando as contrações. Eu tentava fazer força, mas parece que não conseguia acertar o lugar da força. Sentia se perdendo na parte de trás. Uma hemorróida estava atrapalhando, quando fazia força era era a variz que sentia saindo. Tantas coisas se passavam pela minha cabeça... "será que ela é muito grande e não está passando?" , ""será que eu não vou conseguir?". Me sentia cansada, já deviam ser umas quatro da manhã e era a segunda noite que eu estava sem dormir. Eu olhava pra Ana Cris sentada no chão a minha frente, ela dava uma pescada de vez em quando, mas assim que a contração voltava ela me massageava. Mas ela estavam muito fracas, quase parando. Posteriormente meu marido me contou que a equipe se revezava nos cochilos, a Andrea no sofá, a Márcia enrolada numa poltrona (lembro dele comentar que não entendeu como ela conseguiu dormir daquele jeito!), o Cacá foi dormir na sala dos médicos para esperar a Sarinha nascer.
A Marcia vem para a porta do banheiro dar uma olhada e a AC pergunta se ela trouxe homeopatia pras contrações, ela responde que saiu correndo de casa e acabou não pegando a mala de parteira. Ela dá uma olhada e fala que está dando pra ver a cabecinha e os cabelinhos lá no fundo. Chama meu marido pra ver. Ele dá uma olhada e ve a cabecinha dela aparecedo pela abertura do colo do utero. Não consegui ver, o espelho da delivery estava quebrado e não conseguiram outro.
A Marcia vai conversar com a Dra Andreia e elas voltam sugerindo que eu tomasse um pouquinho de ocitocina pra reativar as contrações. Fico triste, muitas coisas me vem a cabeça... será que vou aguentar as contrações com ocitocina? E se elas aumentarem muito? Não quero anestesia de jeito nenhum... tenho pavor de anestesia.
Nessa hora um fator fundamental se apresenta: a confiança. Eu escolhi a equipe que confiava pra me acompanhar. Sabia que isso não seria sugerido a toa. Eu já estava cansada, com muito sono. Só não estava pior porque a AC me alimentou a noite toda.
A Dra Andrea percebe que fico em dúvida, sem querer aceitar, me explica que vai colocar só um pouquinho, um cheiro só. Lembro dela me mostrando a ampola que ia ser colocada na bolsa de soro, explicando que aquilo era o mínimo e ela nem ia colocar tudo. Mas eu não conseguia prestar atenção direito, só imaginava se o parto que eu queria não estava indo por água abaixo.
Ao mesmo tempo sentia uma gratidão muito grande por ser tratada com respeito, por ser consultada a cada passo. Isso não tem preço. Pensei: seja o que Deus quiser. Estamos fazendo todo o possível. Vai acontecer como tiver que acontecer. Não posso controlar isso.
Quando levantei do banquinho e comecei a andar em direção ao quarto senti as contrações voltando com força. Pareciam uma onda me empurrando. No final da contração sentia até uma das pernas ser repuxada pra cima. A enfermeira do SL esperava ao lado da maca pra me colocar a agulha no braço. Cada passo ficava mais difícil. Falo que não dá pra subir na maca. Quero ficar de pé, andar no chão. Elas esperam mais um pouco e por fim eu consigo subir.
A partir daí meu marido fica o tempo todo conosco.
A enfermeira coloca a agulha e o soro com a ocitocina. Acompanhando vem o cardiotoco... aquilo me trazia uma sensação tão desagradável. Pergunto pra Andrea e pra Marcia se preciso ficar com aquilo. Pacientemente me respondem que com a ocitocina precisam monitorar por um tempo pra ver a reação com o medicamento e checar se o bebê está bem também.
A AC vai olhando a folha do cardiotoco: eu nunca vi um padrão de contrações igual ao seu, elas vem em dupla, uma forte seguida da irmãzinha mais fraca...
Passados alguns minutos as contrações quase param. A AC comenta: nunca vi isso, colocar a ocitocina e parar as contrações.
Aguardamos mais um pouco, creio que a Andrea aumenta um pouco a velocidade dos pingos do soro e novamente começa a engatar, mas nada da Sarinha avançar. A essa altura não sei que horas são, mas já devia ser perto de cinco da manhã. A Andrea e a Marcia sugerem que eu experimente mudar de posição para ver se ajuda o avanço da cabecinha dela. Sem muito sucesso.
Em algum momento pergunto se podem tirar a cinta do cardiotoco. Sinto-me horrível com aquilo. A Marcia consulta a Andrea que diz que já havia ficado algum tempo, se estava incomodando muito podia tirar.
A Andrea diz que vai tentar ajeitar o colo, pede que durante uma contração eu faça um pouco de força, mas que pode doer. Não me lembro dessa manobra ter doído muito. Acho que aquela altura eu aceitava qualquer coisa pra ajudá-la a nascer. Delicadamente ela ajeita. A partir daí a coisa evoluiu rapidamente.
Lembro de posteriormente ter agradecido a Andrea em especial essa manobra, mas ela achou que não fez nada. De qualquer maneira, esse toque de anjo funcionou.
Fico de lado, lembro do relato da Mariana (do colegio global) que teve o seu bebê assim. Nesse momento já não sentia mais dor, estava mais tranquila. Lembro de no intervalo de uma contração comentar com a AC que tinha ficado muito brava com a depiladora que eu tinha ido na semana anterior, que tinha me depilado inteira sem que eu tivesse pedido. Só porque eu estava pra ter a bebê ela acho que tinha que desmatar tudo! Até hoje acho isso engraçado, a Sarinha quase nascendo e eu reclamando da depilação!
Quando estamos na partolandia fica totalmente impossivel ter qualquer noção de tempo. A percepção fica totalmente alterada. Pouco tempo depois sinto uma vontade incontrolável de fazer força. Não vejo mais quem está por perto. Quando ela está apontando me perguntam se eu quero mudar de posição, ir pro banquinho, voltar pra banheira. Eu não quero, já que ela estava saindo eu ia ficar assim mesmo. Se fosso de ponta cabeça eu ia continuar na posição pra não arriscar parar de novo o TP.
Sei que meu marido segura a minha mão direita e a MK segura a perna esquerda um pouco erguida. Com um paninho vai me limpando e segurando suavemente a parte posterior do perineo. Isso ajudou muito! Consegui perceber melhor como fazer força. Escutava vozes muito ao fundo sem entender nada. Gemendo baixinho me concentrava nas sensações. Senti centimetro por centimetro a cabecinha dela sair. Ao longe escuto "devagar, devagar" (era a Márcia, mas só soube depois vendo o video), isso pra não lacerar ao nascer, "tá nascendo" (A AC que estava filmando, abençoada!) e meu marido com uns soluços presos.
Tento segurar a vontade de fazer força, pelo eu achava que fazia só um quarto do que tinha vontade. Ao fundo escuto "que força boa", ela estava saindo mesmo. Sinto um pouco de dor em um momento, o circulo de fogo e tento relaxar nesse momento, em seguida o resto do corpo dela sai. Sinto passando os ombros, tudo... não dá pra descrever sensações tão intensas.
A minha pipoca que tanto se mexia na barriga estava toda enrolada no cordão. Ele passava por baixo do braço e em volta da barriga, a Marcia teve que desenrolá-la pra que ela pudesse chegar até o meu colo. A pequena nasceu já chorando ainda com metade do corpo dentro de mim e de olhos arregalados. Parou de chorar em poucos segundos sobre o meu colo.
Sarah Oliva Barga nasceu dia 04/03/08 as 5:46 da manhã com 2570g. Apgar 9/10.
Minha sensação era de que tudo estava acontecendo devagar, mas na verdade foi rápido. Da cabecinha dela apontar até sair, ir para o meu colo e parar de chorar foram dois minutos e pouco. Os dois minutos mais marcantes da minha vida.
A Ana Cris dá um paninho pro meu marido dizendo "pode limpar a sua filha".
O pediatra (o Cacá) estava lá para observá-la e dar os primeiros cuidados. Chegou de mansinho, nem percebi. A Andrea, médica querida, perdeu a saída da Sarinha, precisou ir ao banheiro, voltou correndo, mas não deu tempo. Eu na partolandia nem percebi que ela não estava, mas chegou logo que a pipoca nasceu.
É engraçado ver no vídeo minha expressão olhando pra ela. Lembro de dizer algo como "é a mamãe que está aqui" pra ela parar de chorar. E fico examinando com um olhar de estranheza, tipo bicho fazendo o reconhecimento.
Minha sensação de alívio e dever cumprido era imensa! Estava muito feliz por ter dado tudo certo.
Ficamos juntas um tempão. Horas. Ela mama por muito tempo. Meu marido se atrapalha um pouco, mas consegue cortar o cordão. Devia estar tremendo muito : )
A Sarinha toma o primeiro banho de balde ao meu lado, meu marido segurando ela, enquanto eu tomo uns pontos. Tive uma laceração razoavel, nem sei quantos pontos, mas a Andrea e a Marcia suturaram com o maior cuidado. Lembro delas muito concentradas na "operação".
Mas isso foi depois que a placenta saiu, foi tranquilo, só incomodou um pouco. A gente sempre esquece dessa parte.
Fiquei encantada de ver o carinho com que ela foi recebida pela equipe e nos primeiros cuidados. Vale tanto a pena! Creio que deve ser como chegar num planeta diferente sem poder falar, se mexer, sem entender nada, e ser recebido com carinho ao invés de com rudeza, tubos, agulhas, etc. Não tenho dúvidas de que isso marca o inconsciente por toda a vida.

Agradecimentos:
Primeiro ao meu marido que me incluiu nos seus sonhos de paternidade e ficou ao meu lado quando mais precisei segurando forte a minha mão. E se se preocupou em algum momento, não deixou transparecer para não me atrapalhar. Que me ajuda todas as noites quando ela acorda, não importando o quão cansado esteja, ou que tem que trabalhar cedo no dia seguinte.

A Deus por me enviar esse anjo em forma de menina, tão doce, sensível, esperta, linda. Minha pequena pipoca saltitante. Que eu nunca iria imaginar que seria um bebê tão tranquilo.

A Sarah por ter me escolhido pra ser a sua mãe e confiado que eu seria capaz. Sua vinda mudou minha vida, minha pessoa, minha carreira. Tudo.

A Ana Cris que mais do que o trabalho no momento do parto, muda a nossa vida durante os meses da gravidez abrindo nossos olhos e nossas mentes. Seu trabalho vai te garantir um lugar no céu. Mesmo que muito cesarista torça contra...rs...

Dra Andrea que me recebeu de braços abertos no final da gravidez. Obrigada.
Márcia, sua luz foi importantissima no momento da chegada da Sarah. Obrigada.
Pediatra Cacá. Até hoje me encanta a sua sensibilidade ao lidar com a Sarinha. Ela foi muito bem recebida.

As amigas maravilhosas que fiz na materna e que me deram apoio quando mais precisei, Andreia Gebrael, Vanessa Boscaine, Catia Chuba, Joseli, da Partonosso, dr Ricardo Jones, Melania, Paty Merlin... obrigada pelas mensagens, me ajudaram demais.




Relato do parto na visão do Papai


Relato de um pai. Lembranças de um dia mágico.



Era 02/03/2008, um domingo, e já era noite. Minha esposa completado as 40 semanas de gestação, eu já me achando super preparado para ser pai e, de repente, minha esposa começa a sentir um líquido escorrendo pela perna. Pensei: estourou a bolsa! E agora?



Por dentro tremia, mas por fora mantinha a pose de seguro. Afinal, eu estava preparado!



No fim não era a hora, mas fui trabalhar na segunda convicto que tinha que voltar antes do fim do expediente. Voltei na hora do almoço e deixei alguns serviços com outra pessoa (diria que deixei algumas granadas sem o pino, mas fazer o que?). Até então a Kátia tinha alguma contrações, mas me parecia ainda uma fase pré-punk, seja lá o que for isso...



Fomos ao São Luiz e, depois de muita demora, fomos atendidos e não havia dilatação. Foi feito um ultrassom e tudo estava bem, até que voltamos para casa no fim da tarde. Durante o tempo na maternidade pude ver várias mães com cesárea marcada. Aquela coisa de levar 2 malas, esperar na recepção a liberação do quarto, parecendo que chegou em um resort, me incomodou. Acho que ser mãe deve ser muito maior do que ser operada sem necessidade. Acredito que o bebê deve nascer e não “ser nascido”, a não ser quando houver necessidade comprovada. Eu estava preparado!



Já em casa, lá pelas 10 da noite, fui apresentado à fase punk. Relógio, caneta e papel na mão, fui anotando as contrações que já estavam com ritmo regular. Avisei a Ana Cris, o Kaká e a Dra. Andrea (na verdade, nem consigo lembrar se fui eu ou a Kátia quem ligou primeiro, mas que eu falei com eles, isso eu me lembro..). Decidimos esperar ficar um pouco mais punk(!) e fomos novamente ao São Luiz e encontramos a Ana Cris. Quando foi examinada, já estava com 7 ou 8 cm dilatação. Foi quando eu tremi pela primeira vez. Não tinha mais volta e eu iria ser pai. Eu achava que estava preparado.



Fomos para o quarto e a Kátia ficou na banheira para relaxar um pouco. Realmente ela relaxou e acho que foi até demais. A evolução foi lenta durante a madrugada. Me lembro que o que quebrou o ritmo foram uns cookies que levamos. Sucesso absoluto e não sobrou nenhum! Andei pela maternidade de um lado a outro por horas. Entrava e saía do quarto, espiava o andamento e via o revezamento da Ana Cris, Márcia e Andréa dormindo no sofá. Só a Kátia não poderia revezar. Ela era a protagonista de toda a história.



Lá pela 4 e meia, ela sai da banheira e tenta outras posições com um banquinho, anda um pouquinho pelo quarto e o processo “engata” de novo. A Sarah está chegando! Eu já não tinha certeza de estar preparado.



Ela vai para a cama e a Dra. Andrea aplica um mínimo de ocitocina. Já não saí mais do quarto porque só estava convicto que era questão de minutos para o nascimento. Estes minutos duraram mais de 1 hora, mas nunca vou me esquecer de ter visto os cabelinhos da Sarah apontando, ainda dentro da mãe. Acho que perdi a noção do tempo neste instante. Eu queria rir e chorar, gritar e ficar quieto, tudo ao mesmo tempo. Quem estava preparado?



Fiquei com a Kátia o tempo todo nesta reta final, segurando a mão dela, pois não poderia fazer muito mais do que isso. Este era o momento de ela ser Mulher, com todos os M's maiúsculos que possam existir. Ela tirava forças de todas as partes do corpo e canalizava para o nascimento. Me recordo de ter sido um momento tão mágico que me custa acreditar que há mulheres que abrem mão de passar por isso. Me senti orgulhoso de ter casado com esta Mulher! Que sorte a minha!



Às 05:45h, já no dia 04/03/2008, nasce Sarah Oliva Barga. Fiquei tão nervoso que nem conseguia segurar direito a tesoura para cortar o cordão, mas cortei mesmo assim e dei o primeiro banho da vida dela (deve ser por isso que eu continuo dando banho até hoje).



Depois de tantos Réveillon, Natal e aniversários focando meus desejos (não tão) secretos em ser pai, me vi tão envolvido com aquele instante mágico que, definitivamente, não dá para estar preparado. Tem coisas que a gente tem que vivenciar para poder sentir o que é. Ser pai é uma delas.



Neste primeiro contato com minha filha percebi que não era um bebê em meus braços, mas sim um pedaço de mim que se transformou em gente. A partir daí, tive a certeza que minha vida já não era mais minha.



Alessandro

Pai da Sarah, parto hospitalar, 1 ano



P.S.: como terminar sem exaltar a Mulher com quem casei há quase 5 anos? Desde que soube que estava grávida até hoje, com a Sarah completando 1 ano, pude ver a transformação nesta pessoa que um dia não teve muito jeito com crianças mas que hoje é capaz de tirar de letra o papel de mãe. Tive muita sorte de encontrar esta Mulher na Internet e agora tenho outro golpe de sorte ao encontrar este super mãe que estava escondida dentro dela. Só posso agradecer a Deus pelo que ele me proporcionou e dizer: Kátia, eu te amo!
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